A convite do Agostinho, do Arte por um canudo, entrámos nesta corrida. Até porque o percurso era curto e não exigia um grande esforço físico (é que os anos não perdoam ), embora não estejamos assim tão afastados da prática desportiva, como convém, para manter a forma! Um desafio de um amigo...cumpre-se!
Ex-Libris da Tugosfera.
Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser? </strong>Quem diz que eu não sairia?!Santa Ana!
Festas Populares de Parada de Gonta. Retrato de outros tempos!
As Festas populares da Freguesia, ocorrem no 1.º fim-de-semana de Agosto. Têm já longa vida e, concerteza, uma grande história. Foram, ao longo de muitos anos, uma importante referência no mapa das festas populares da região (ainda hoje isso acontece, embora sem o brilho e a intensidade de outrora). Há umas décadas concorria mesmo, com as afamadas "Festas da Mata" de Tondela, organizadas pelos Bombeiros Voluntários, disputando muitas vezes a mesma data de realização, sem contudo sofrer qualquer revés na presença de público, sempre em grande número.
Temos ainda presente, dos tempos da nossa meninice, retratos de grandes momentos de verdadeira e envolvente festa popular. Grandiosos arraiais beirões que inundavam de cor e alegria toda a Aldeia e quantos a visitavam nesses dias.
A Fé religiosa era enaltecida no convívio salutar entre a envolvência pagã e a entrega ao mais profundo respeito e puro sentimento cristão. Em Parada de Gonta sempre se soube viver e conviver na mais genuína e salutar relação.
Numa imagem que nos leva a tempos mais remotos, trazemos aqui um artigo de A. Martinho que traduz a longevidade destes festejos e o fulgor que então acalentava esse fim-de-semana de Agosto escaldante.
«Ocorreu no primeiro domingo de Agosto, a que foi outrora uma das mais luzidias e concorridas romarias da Beira, a padroeira da aldeia "Nossa Senhora Santana.
Normalmente abrilhantada por três filarmónicas, durante três dias de festa rija, que arrastam a Parada de Gonta milhares de romeiros de terras longínquas, levados pela reputação de que gozavam os festejos da mais castiça das Terras beiroas. Eles traziam consigo o desejo incontido de observarem e intervirem, especialmente nos bailaricos que num rodopio estonteante os fazia folgar, cantar, bailar, entoando as velhas canções dos nossos avós, e dançar quer ao som dos característicos ferrinhos e viola, quer ainda aos acordes das filarmónicas, ou nos joguinhos de roda, em que os rapazes e raparigas desse tempo eram executantes exímios, cantando e bailando com brilho e saber, o que aprenderam dos seus maiores, que era afinal o que havia de mais puro em folclore regional a que davam execução e que nos maravilhava. Que saudades desse tempo em que centenas de pares, numa sincronia perfeita, dançavam com especial realce, os números que foram feitos para eles, com letra e música de gente da nossa Terra!
Tudo bailava; velhos e novos, sem discriminação social de classes, à sombra do secular castanheiro (que já não existe), no largo e campeiro Terreiro, que de grande era minúsculo para comportar tanta gente. Assistia-se à exibição faustosa dos fatos novos que nesses dias eram exibidos pelos pares de namorados que de mãos dadas, como que envergonhados, lá se encaminhavam de face cavada, para o bailarico.
Que bons e bonitos tempos eram esses d'então!
Havia na aldeia de então, famílias que ali vinham passar férias, como a família do prosador e poeta Thomaz Ribeiro Colaço (neto de Thomaz Ribeiro) e filho da mimosa poetisa Branca de Gonta, que trazia consigo pessoas amigas, artistas ou intelectuais, como Virgínia Vitorino, Maria Archer, Amélia Rey Colaço sua prima e a grande artista que todos conhecem, Ana Paula e a voz de oiro da canção desse tempo, Corina Freire.
A familia Thomaz Ribeiro de Melo, diplomata, e seu filho Rodrigo de Melo, poeta que a morte ceifou impiedosamente tão cedo, no princípio da sua vida intelectual. A família Moura Coutinho e tantos outros que o tempo apagou da memória. Estas famílias e pessoas amigas, socia1mente diferentes, porque dotados de posição e cultura diferentes, formavam no bailarico a ala dos namorados, vestindo as senhoras fatos precisamente iguais ao das raparigas, distinguindo-as apenas aqueles pormenores que distinguem uma senhora duma lavradeira, vestida com os mesmos trajes. Dançava-se e, curioso, não havia entre centenas de pessoas, problemas que obrigassem a reacções menos corteses.
Quase esquecia de salientar a procissão!
Formada por vários andores que a proficiência do senhor Paulino, davam à composição dos mesmos, uma simplicidade e uma graça, que todos admiravam.
A chanfana, é possível que seja desconhecida de muita gente, mas era realmente um prato excelente. Cozinhado no forno de pão.
O que é afinal a chanfana? Nada mais, nada menos, que para muitos a ovelha, para outros o cordeiro, que com batatas miúdas, arroz e um molho especial, era uma maravilha. Não sei se hoje ainda se faz em Parada esse prato; tudo modificou desde essa época, desde que foi separada a festa religiosa da festa pagã, ou melhor, a festa de SantAna morreu com a intolerância das autoridades religiosas de então.
A festa terminava com umas canções de Corina Freire, de que apenas recordo uma, por sinal lindíssima: Camélias.».
Voz das Beiras de 30-8-79