Durante muitas décadas assumindo-se como o único transporte entre os pontos mais longínquos do País, o comboio a vapor viria a sucumbir na década de setenta substituído pelos transportes rodoviários. Desde então todo o património da então CP- Companhia Portuguesa dos Caminhos de Ferro, na linha do Dão, está ao abandono, salvo raras excepções por recuperação de terceiros.
Não sendo excepção, a estação de Parada de Gonta, outrora ponto de partida e chegada de mercadorias e pessoas constituindo-se como base fundamental de mobilidade para uma vasta região, possui hoje uma imagem degradante que não honra ninguém.
Inventado em Inglaterra em 27.9.1825, o Cavalo a Vapor cedo conquistaria o mundo, em especial o espaço Europeu, sendo Portugal o 14.º País a possuir a grande maravilha a vapor quando em 28.10.1856, se inaugurou o primeiro troço ferroviário. (1)
Factor de grande desenvolvimento na época, o comboio a vapor constituía-se como única via de acesso entre o litoral e o interior, entre os grandes pólos e os pequenos povoados rurais. O transporte de pessoas, mercadorias e correio, permitiam um progresso mais abrangente e mais acessível a todos.
A linha do Dão que liga Santa Comba Dão a Viseu passando por Parada de Gonta, foi inaugurada em 1890, numa altura em que Tomás Ribeiro era Ministro no governo de Fontes Pereira de Melo.
Tomás Ribeiro foi um grande impulsionador dos Caminhos-de-ferro. Soube honrar a sua região e em particular a sua Terra dando à Estação de Caminhos-de-ferro o nome de Parada de Gonta, que ainda hoje ali se encontra, em letras bem visíveis e que ninguém poderá apagar. Trata-se além de mais, de um símbolo histórico e de uma honra para todos os Paradenses retratando a memória de um antepassado ilustre a quem o País, em particular Parada de Gonta, muito deve!
Numa sessão extraordinária da Junta da Paróquia de Sabugosa (freguesia vizinha), a propósito da inauguração do Caminho de Ferro, lavrada em acta no dia 17 de Novembro de 1890, foi registado um voto de louvor que não resistimos a transcrever «
sabendo a Junta que à festa de inauguração do mesmo Caminho preside o Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Conselheiro Tomás António Ribeiro Ferreira, Ministro das Obras Públicas e Minas Comércio e Industria que tanto tem trabalhado e desde largos anos para a realização deste importante melhoramento de que em grande parte lhe somos devedores (
) propondo nesta ocasião que se consigne na acta um voto de louvor e agradecimento àquele nosso benemérito e nobre patrício. Esta proposta que estava no ânimo de todos os membros da Junta foi unanimemente aprovada, resolvendo-se em seguida que desta acta se tire uma cópia autêntica que será entregue ao nobre Conselheiro, em testemunho da gratidão de todos os filhos de Sabugosa.» (2)
No dia 5 de Junho de 1894, a Rainha D. Amélia efectuando uma visita ao balneário das Termas de S. Pedro do Sul, quis homenagear as gentes da Beira e em particular o Conselheiro Tomás Ribeiro. A sua viagem de comboio teve três paragens: Em Alfarelos para almoço, em Tondela e em Parada de Gonta, como consta da notícia da época, no Jornal A Folha de 5 de Junho de 1894.
A Estação de Parada de Gonta foi, como se depreende, um enorme factor de desenvolvimento local. Ali chegavam e partiam pessoas e mercadorias não só da Freguesia mas de muitas das localidades da região.O comboio servia as populações para as suas deslocações aos grandes centros urbanos. Tondela, Viseu, Lisboa
Era no comboio que vinha a matéria-prima e seguiam as encomendas que faziam o progresso da Fábrica de Lanifícios Videira.
Os soldados que serviam Portugal, apanhavam ali o transporte para os diversos quartéis militares de todo o País. E o comboio, na sua passagem, dava o sinal sonoro atravessando serras e vales, numa tal pontualidade horária permitindo a substituição do relógio que o agricultor não podia comprar.
Que futuro para a Estação de Parada de Gonta?
(1) Cruz, J. Linhas Ferroviárias Dão e Vouga.Retrospectiva.CNE Região Viseu.1991
(2) Pires, A. Sabugosa e Sua Gente.Edição da Câmara Municipal de Tondela.2001