A Fábrica de Lanifícios em Parada de Gonta, é hoje um monte de ruínas à beira-rio plantado. Outrora, motor de desenvolvimento na Freguesia, foi ao longo de muitos anos alimento para muitos Paradenses que ali trabalhavam produzindo diversos tipos de tecido, cobertores e várias peças de vestuário, que seguiam para as grandes cidades do País e estrangeiro.
Construída em 1870 em terras de Tomás Ribeiro aproveitando uma queda de água com potencialidades para gerar a força capaz de possibilitar o funcionamento da maquinaria necessária, viveu tempos de grande sucesso comercial através da gestão dos seus proprietários Syder & Dolne. Cristina de Gonta Colaço, filha da Poetisa Branca de Gonta Colaço, refere na Folha de Tondela que o seu avô Tomás Ribeiro perante um certo declínio da então Fábrica de Lanifícios, «
fez com que Joe Syder, irmão de Ann Charlotte Syder (Mãe de Branca de Gonta e Irene de Gonta) fosse morar por uns tempos em Parada para ajudar a que a fábrica de tecelagem (
) se reorganizasse e voltasse a ser próspera. Refere ainda que aquele seu «Tio-avô Syder era muito entendido em fabrico de tecelagens (
), que gostou imenso de viver em Parada e que até se apaixonou por uma linda menina da aldeia de quem teve cinco filhos: - Cármen, Carlos, José (o Zeca) e Aninhas. Todos tiveram filhos (menos a minha muito querida prima Maria Syder Hubert Dias, que faleceu no ano passado com grande pena minha e de todos quantos a conheciam.».
No ano de 1894, a Fábrica de Lanifícios tinha as seguintes características: - A fachada da frente possuía três andares e as laterais dois, num edifício com 60 metros de comprimento e 22 de largura. Uma enorme roda hidráulica com 2,50m de largura e 9 m de diâmetro, alimentava a força motriz produzida pela corrente de água que para ali era desviada do Rio Pavia, num potencial de força equivalente a 50 cavalos. Uma máquina a vapor, de 30 cavalos de força, era utilizada para fornecer vapor às máquinas da casa do acabamento e montada de forma que no caso de estiagem pudesse substituir ou auxiliar a roda hidráulica.
No primeiro pavimento ficava o armazém da matéria-prima, o do fiado e a casa do acabamento, na qual se podiam admirar outras interessantes maquinas, das quais a mais importante era a que cremos chamar-se ramula, que servia para dar à fazenda a largura desejada, bem como para a secar completamente depois do piso, lavagem, passagem pelas prensas a vapor, etc. No segundo pavimento, um vasto salão de 45 metros de comprimento por 22 de largo, estavam colocadas 2 fiações de 400 fusos, 15 teares mecânicos, 25 teares manuais, 1 escolhedeira, 3 maquinas de retorcer fio, urdideiras e outros aparelhos acessórios. O terceiro pavimento destinava-se a armazém para depósito de fazendas em via de acabamento para inspecção, escritórios e salas de atendimento. A sua produção, na época, tinha saída imediata.Quem a visitava apenas via armazenado meia dúzia de xales, cobertores e outras poucas peças que serviam de amostras. Os seus produtos destinavam-se a Lisboa e Porto, especialmente à Casa Grandella e Grandes Armazéns Hermínios. Trabalhavam ali, diariamente, cerca de cem pessoas de ambos os sexos.
Em meados do século passado, a Fábrica de Lanifícios passou para a família Videira que detinha outra do mesmo ramo no Portodinho (Stª Ovaia de Cima). Em 1975, já nas mãos dos herdeiros família Correia Teles, um incêndio destruiu esta indústria de Lanifícios, não mais sendo recuperada. Possui, actualmente, novos proprietários, desconhecendo-se qual o destino que pretendem dar-lhe.
"Folha de Tondela de 08.06.1984
Jornal A Folha de 05.06. 1894